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  1. "João vai à praia'

    sexta-feira, 1 de abril de 2011

    Everson Andrade.
    2009.1

    "Quando tinha 11 anos ele viu o mar pela primeira vez, vindo do sertão sempre o imaginava como uma grande represa, mas ao chegar foi amor à primeira vista, se a apaixonou e casou. 41 anos depois trabalhando diariamente, vendendo picolé na praia esse amor virou monotonia. Hoje com 52 anos João da Silva se prepara para seu segundo passeio na praia.

    Vai levar sua família para passar um dia de domingo, dessa vez de frente para o mar, pois por quase quatro décadas viveu dando as costas para ele e cedendo atenção exclusiva aos desconhecidos a quem vendia seu produto. 

    Ele chegou cedo, veio de ônibus e procurou o lugar mais reservado da praia, não queria que os amigos o vissem naquela situação. Parou, sentou, e olhou: o sol ainda era dividido em dois pela linha do horizonte e o céu meio escuro como que vai chover dentro de cinco minutos. Sobre o pano em cima da areia sua mulher colocou o bolo de ovos, e com o guaraná chamou os meninos que já corriam pela areia, e ali mesmo tomaram o café. Família simples, nem ligou para os granfinos que passavam fazendo suas caminhadas e olhavam torto para aquelas pessoas sentadas.

    Já eram dez horas e para o seu desgosto um dos colegas de trabalho apareceu. Ele não tinha nem um problema com os seus amigos ou sua situação social, porém nunca fora visto ali se não trabalhando, mas segundo o mantra de Chico, pediu sua cerveja para tomar antes da galinha com farofa que sua esposa tinha preparado para o almoço. Aquela cerveja desceu refrescando seu corpo e espírito, se tornando mais doce que o doce da batata doce.

    Enquanto saboreava aquele mimo que se permitiu, observava seus filhos brincando na água. Brincavam de não sei o quê, mas eram felizes, com isso remeteu ao seu passado quando o mar era seu açude. Para ele seu dia já estava de bom tamanho e alegre.
    Após saborear o galeto, entrou pela única vez no mar, brincou e nadou até dizer chega, voltando juntaram suas coisas e foram para casa.
    Ainda no ônibus disse à companheira que gostou da experiência e daquele dia em diante repetirão mais essa atividade. Antes de morrer João foi à praia mais 867 vezes, e mais 3 vezes visitou a praia".


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